Custo cai e segura rentabilidade de exportações

27 Julho 2023
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Redução ajuda a equilibrar equação de preços em baixa real valorizado, mostra Funcex

Apesar da queda firme dos preços de produtos importantes que o Brasil vende ao exterior, a rentabilidade média dos exportadores se mantém no zero a zero em 2023, amparada principalmente pela queda do custo médio de produção. De janeiro a maio, a rentabilidade dos produtos exportados no país teve alta de 0,1%, na comparação com o mesmo período de 2022, amparada por uma queda de 3,6% dos custos de produção. Do outro lado, o preço médio dos produtos exportados caiu 4,7% e o câmbio nominal teve valorização de 0,7%.

O efeito negativo dos preços de exportação foi mais visível nas indústrias extrativas, cuja rentabilidade média registrou um tombo de 13,3% no ano até maio, sempre na comparação com igual período de 2022. Já a rentabilidade da indústria de transformação cresceu 5,3%, enquanto a de setores não industriais subiu 2,7%.

Os dados são da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex). Segundo Daiane Santos, economista da instituição, a queda do preço médio das exportações para as indústrias extrativas derreteu 22,9% no período, corroendo a rentabilidade do setor - que tem, entre seus principais produtos, o minério de ferro e o petróleo.

“A extração de minerais metálicos apresentou queda de 3,5% nos custos de produção, impulsionada pela queda nos preços dos insumos nacionais e nos serviços e salários. Em tese essa redução tornaria os produtos mais competitivos internacionalmente. Contudo, a queda acentuada no preço exerceu forca superior e corroeu os ganhos provenientes das quedas nos custos”, diz.

Daiane nota que o mesmo ocorreu com a categoria petróleo e gás natural. Já os minerais não metálicos viveram movimento contrário e observaram alta de 4,8% dos preços. A categoria, no entanto, representou apenas 0,4% do valor total das exportações brasileiras no período.

Segundo Welber Barral, sócio da BMJ Consultores, o segmento sofre com uma base de comparação alta. “No mesmo período do ano passado, os preços dessas commodities estava elevado por uma conjunção de fatores, como a guerra da Ucrânia e a expectativa de forte retomada econômica na China.”

Na outra ponta, a indústria de transformação foi a mais beneficiada pelo movimento recente de custos e preços em baixa. Segundo Daiane, o preço médio dos insumos nacionais e importados caiu 4,4% e 2,7%, respectivamente. Já os serviços e salários tiveram baixa de 1,7%.

Para José Augusto Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), a exportação manufatureira é mais beneficiada pela queda dos custos porque é a mais dependente de importação de insumos. “E a tendência é de crescimento. Ano passado, o déficit da balança de manufaturados foi de US$ 128 bilhões, contra US$ 111 bilhões dez anos atrás”, lembra.

Outro fator de apoio à indústria de transformação foi a recuperação econômica mundial, em especial na América do Sul, diz Barral. “A maior demanda da região, que é grande consumidora dos manufaturados brasileiros, ajudou a recompor essa margem”, diz.

Castro acredita que, com o câmbio relativamente estável e uma tendência de queda apenas leve dos preços produtos mais importantes da pauta exportadora brasileira, como soja, petróleo e minério de ferro, a tendência da rentabilidade das exportações brasileiras caia no restante do ano, mas lentamente. “Mesmo o milho, que estava com preços sustentados até agora, parece ameaçado com o início dos embarques da safrinha e também a concorrência americana”, nota.

A AEB atualizou recentemente sua projeção para o saldo comercial em 2023, agora para US$ 86,5 bilhões. “Infelizmente, não tem nada de especial nessa revisão, nenhuma troca de posições no ranking dos mais exportados”, diz. “De notável, só o fato de a soja ultrapassar a barreira dos US$ 50 bilhões exportados”, acrescenta. Segundo a estimativa da instituição, essa marca ocorrerá na esteira de uma alta de 24% do volume exportado na comparação com 2022, que mais que compensará a da queda de 12,7% nas cotações.”

Barral também não vê grandes oscilações no indicador até o fim do ano. Em relação ao setor não industrial, ele entende que a instabilidade global, em especial por causa da guerra na Ucrânia, deve ajudar a dar suporte aos preços dos grãos brasileiros. Por outro lado, diz, é possível que o conflito possa se traduzir em nova alta dos preços de fertilizantes.

No caso da indústria extrativa, o grande “elefante na sala” é a China, diz. “O crescimento este ano será relevante, mas inferior ao que se esperava. Isso deve ajudar a frear a queda dos preços dos minerais, mas não o suficiente para reverter essa tendência.”

No ano até maio, 9 dos 30 setores acompanhados pela Funcex tiveram queda do índice de rentabilidade. O destaque negativo ficou com os setores de petróleo e gás natural (-17,6%), derivados de petróleo, biocombustíveis e coque (-9,9%) e minerais metálicos (8,9%).

Na outra ponta, produtos do fumo (57,5%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (19,4%) e produtos de borracha e plástico (18,3%). A fabricação de veículos automotores, único produto entre as 15 maiores exportações brasileiras não ligado a commodities, teve alta de 13,9% da rentabilidade no período.

Fonte: https://globorural.globo.com/economia/noticia/2023/07/custo-cai-e-segura-rentabilidade-de-exportacoes.ghtml

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