O Cristo Redentor e o Bem Comum

17 Setembro 2022
/

por Padre Omar Raposo
Reitor do Santuário do Cristo Redentor

A relação entre o Cristo Redentor e o Bem Comum nasceu de uma perspectiva, de uma visão institucional, que hoje tem como objetivo maior a integração de um modelo de gestão capaz de favorecer o desenvolvimento sustentável e, ao mesmo tempo, de evidenciar que o Cristo Redentor com seus braços abertos não é apenas um monumento perdido no alto de uma montanha. Ele quer interagir com toda a população. Ele quer estabelecer conexão com toda a sociedade.

O princípio do Bem Comum é percebido ao longo da história do pensamento humano como um princípio fundamental para que a lógica do amor possa ser evidenciada. É impossível pensar o discurso do amor, com boas práticas em seu nome, sem que o Bem Comum esteja ali presente ou que a verdade do Bem Comum seja apresentada de forma orgânica, verdadeira e sistêmica.

No princípio do Bem Comum, o resultado positivo não é apenas para uma pessoa. O Bem Comum nos faz romper com toda a lógica egoísta e nos coloca diante de um novo cenário, nos ajuda a recriar e ampliar a finalidade de nossa atuação no mundo. O Bem Comum se opõe à lógica perversa de um bem individual, ou do individualismo. Este novo olhar nos molda um cenário onde podemos ampliar os nossos horizontes, pensando sempre em bons resultados de forma mais ampla e objetiva. Vamos encontrar na dinâmica do pensamento ou da prática um pulsar novo. Eu faço o bem não somente para mim. Concretizo coisas importantes não somente visando o meu interesse individual, mas penso de forma mais abrangente, coletiva, para que tantos sejam beneficiados a partir do meu esforço, do meu trabalho. Então, eu não vivo apenas para mim. Passo a incluir as pessoas. O Bem Comum, em seu DNA, é coletivo e inclusivo.

Encontramos na “Sagrada Escritura”, no livro “Atos dos Apóstolos”, que o Cristianismo nasce envolvido no Princípio do Bem comum: “Entre eles, não faltava coisa alguma”. A dimensão da partilha é um princípio presente desde a origem do Cristianismo, desde as primeiras comunidades cristãs. Jesus agia sempre em benefício de todos. Mesmo quando curava uma pessoa, não era apenas um indivíduo beneficiado. Cada gesto de Jesus tinha uma repercussão muito grande em relação aos demais.

Toda ação de Jesus Cristo sempre visava o Bem Comum.
O bem de todos. Daí notamos a reverberação de seus ensinamentos ao longo da História. Se não fosse motivado pelo Bem Comum, pelo bem da Humanidade, suas ações seriam apenas pontuais. Lá atrás, há dois mil anos e até hoje, o que Ele pregou na dimensão do amor que rompe o egoísmo são ensinamentos que revelam valores e geram engajamento nessa boa prática do Bem Comum. E a Igreja Católica, como portadora da mensagem de Jesus sempre procurou atualizar essa mensagem, trazendo novas luzes para a Humanidade.

O Papa Leão XIII mostrou a questão do Bem Comum, que figura como um dos princípios da Doutrina Social da Igreja. O contexto era o da pós-Revolução Industrial, ante o crescimento de novas lógicas de um nascente capitalismo e tantas outras realidades agressivas, até mesmo um novo mundo com novas relações de trabalho.
Naquele momento, via-se que se você não pensar o Bem Comum, não há como ter distribuição; partilha. A partir dessa luz desse documento, ele traz uma atualização do princípio do Bem Comum para a Humanidade. E a Igreja a partir da sua capilaridade no mundo todo começa a dar vazão a esse conteúdo.

No Santuário do Cristo Redentor, a aplicação do Princípio do Bem Comum de maneira concreta é o nosso objetivo primaz: o ponto de partida para tudo. Em seu modelo de governança híbrida, o Cristo Redentor é um patrimônio, um ativo da igreja católica, ao mesmo tempo, aberto a todos porque foi pensado a partir do princípio do Bem Comum. Já no acolhimento quando a Igreja pensa em Cristo Redentor, não botou o monumento dentro de um templo fechado. Ele foi construído a céu aberto. Está de braços abertos a todas as pessoas de boa vontade. Não existe filtro religioso ou abordagem ao turista, ou peregrino, quando chega ao Cristo Redentor para revelar a sua religião – seja católico, judeu, muçulmano, o que for. O monumento é um lugar aberto a todos. E não existe nada que venha inviabilizar a nossa forma de bem acolher as pessoas. É um monumento católico, mas é um espaço que se integra perfeitamente à dinâmica do diálogo ecumênico e inter-religioso. Sendo uma imagem que está a céu aberto, não traz a pessoa para uma perspectiva cultual ensimesmada ou excessivamente intrínseca. O Cristo Redentor se expande no cenário carioca.

A comunicação simbólica do Cristo é completamente fundamentada no Bem Comum. Braços abertos não só aos católicos e aos brasileiros, mas a todos. O Cristo Redentor do Corcovado é universal. Essa imagem é muito cara e importante para nós, porque vai fundamentar a justificativa de cada ação. Sob a perspectiva administrativa do Cristo, identificamos também alguns desafios ao longo do tempo. O Cristo Redentor seria apenas sím bolo perdido no alto da montanha ou quer se relacionar com as pessoas? De que forma a comunicação do Cristo Redentor pode ser massificada e ao mesmo tempo individualizada? A resposta se dá pelo caminho do Bem Comum.

Em nossa gestão, criamos um setor chamado de Cristo Sustentável, porque estávamos querendo interagir com a sociedade. Ainda que esteja a 710 metros de altura, não está isolado. Não o queríamos como uma ‘mônada’1. O Cristo Redentor é um monumento que gera relações.

Ele pode estar equidistante da vida urbana, mas pode ser vislumbrado por todos. E foi estrategicamente colocado na colina para evidenciar não somente a fé do povo brasileiro, uma cidade abençoada, mas igualmente disponível para todos, com os braços abertos a todos. Temos necessidade de estabelecer uma relação com todas essas pessoas – ricas ou pobres, com toda as referências étnicas ou religiosas. Se em algum momento a Igreja fez uma opção preferencial pelos pobres, o Cristo Redentor faz uma opção preferencial por todos os seres humanos e por toda a Natureza, todo o cosmo, toda a realidade criada. Tudo isso está na zona de interesse do Cristo.
Precisamos atuar para todas as pessoas. Não é só o pobre que precisa de Deus. O rico economicamente pode ser carente e necessitado de outros valores (imateriais). Então, não é um Cristo que discrimina, mas um Cristo que acolhe, e nos ensina a ser melhores.
Os projetos sociais do cristo e as ações do Cristo Sustentável são fundamentadas em três pilares: a dimensão social, a dimensão ambiental e a dimensão econômica.
São pilares da sustentabilidade. E o que amarra esses três pilares da sustentabilidade é o Bem Comum. A ação social só é possível a partir do Bem Comum. Só se faz a caridade e só se pensa no próximo quando você pensa no Bem Comum. O pensamento do meio ambiente, das questões ambientais, só é possível à medida em que eu me abro ao Bem Comum. O mesmo vale para a questão econômica ou da governança. O fio condutor para uma boa leitura do pensamento sustentável é o Bem Comum. Esta é a nossa motivação.

A Encíclica “Laudato Si” do Papa Francisco (2015), é um documento importante que relaciona o Bem Comum com o desenvolvimento sustentável. Ali está a grande Carta Verde da Humanidade. O Papa reúne pesquisadores e nos traz o fio condutor, a perspectiva do Bem Comum na relação com a sociedade de uma forma mais tangível. As boas práticas sustentáveis, o cuidado com a Casa Comum, nós coabitamos esse mundo. Então, se a casa é comum, todos têm que participar. Um hóspede que não colabora para o bem-estar da casa acaba não sendo bem-vindo. O Bem Comum começa a ser um dínamo para gerar outros valores tai como a generosidade, o compartilhar, o respeito.

O Cristo Redentor está inserido em uma grande floresta urbana, no Parque Nacional da Tijuca. Hoje tenho um núcleo do no Cristo com profissionais especializados, temos convênios com entidades que certificam os nossos projetos, engenheiros ambientais, equipe capacitada que faz parte do quadro do Santuário, exatamente para podermos manter de forma linear e colaborativa a nossa ação junto à gestão do Parque da Tijuca. O Cristo Sustentável respeita o meio ambiente e o seu entorno.

Substituímos as lâmpadas dos antigos refletores pela tecnologia de LED. Antes, todos os dias, tínhamos que varrer do local os insetos que eram atraídos pelas luzes dos refletores e acabavam morrendo ali. Com as novas lâmpadas, eliminamos de vez esse impacto ambiental negativo. No máximo vem um macaquinho ali e mexe no refletor. Geração de ruídos é outra preocupação. Mas buscamos de todas as formas equalizar a nossa convivência com o entorno de tal forma que o Cristo continue imponente, soberano, imparcial e sempre apoiando iniciativas que visem o dito Bem Comum.
Outro documento importante do Papa Francisco é a Carta Encíclica “Fratelli tutti”. Qual é o despertar da “Fratelli Tutti? Somos todos irmãos, iguais. A nossa essência é a mesma, independentemente de crença ou religião. Somos iguais e o princípio do Bem Comum deve também nos nortear, não para nos formatar, ou nos engessar, mas para que as nossas diferenças sejam respeitadas e possam ser mais e mais incrementadas. A aceitação das diferenças de uma vida plural, de um mundo plural, de culturas diversas, vai passar também pela lógica do respeito, como desdobramento do Bem Comum.
Sob a perspectiva da “Fratelli Tutti”, o Santuário do Cristo Redentor tem feito muitos trabalhos socioambientais. Temos oportunidade de poder meditar e trabalhar em torno do Bem Comum com propriedade.

Não fazemos as coisas por modismo de fazer caridade, juntar todo mundo, ou criar algum tipo de compensação diante das culpas que são geradas na vida. O que nos motiva fazer o bem? A ter o pensamento sustentável? É o Bem Comum.
O Bem Comum também está na base da construção de redes de solidariedade. A arregimentação de pessoas com propósito comum pressupõe uma identidade. Vamos juntar pessoas para fazer algo que se julga importante para todos. E o Cristo Redentor é um agregador, congregador e dissipador de valores e de boas práticas nesse sentido. Porque, sobretudo, é um comunicador, do ponto de vista simbólico. A palavra símbolo vem do grego símbolos (aquilo que aproxima, integra e congrega).
O Cristo Redentor, como símbolo, em essência é agregador. É a realidade simbólica que comunica valores.
Se eu estou bem consolidado nessa perspectiva nessa crença, tudo dá certo. Nada dá errado. Ele é um cristo resiliente. Está de pé, de braços abertos. Superou as dificuldades. O monumento tem a cabeça levemente inclinada para a cidade. Nada do que acontece na cidade, ou na urbe passa despercebido ao olhar do Cristo Redentor.
Ele olha para cidade, com a cabeça levemente inclinada.
Ao longo de 90 anos, esse monumento viu muita coisa acontecer. Muitos presidentes, muitos modelos econômicos, muitas ações políticas. Muitas transformações sociais. Viu o crescimento das favelas do rio de Janeiro.
Esse Cristo Redentor viu tudo acontecer. E o que mais gostaria de ver rumo ao centenário? Um Rio de janeiro, um Brasil mais solidário? Sim. Mais sustentável? Sim.
Um Cristo Redentor que agrega valor à cidade? Sim.
Um monumento bem fundamentado em sua perspectiva simbólica? Sim.
Isso são coisas que temos a comunicar. A comunicação simbólica do Cristo tem uma força orgânica. Pela geração de mídia espontânea, o cristo Redentor tem força própria. Tudo o que fazemos, as campanhas que queremos dar visibilidade, sempre visam o Bem Comum. A primeira grande campanha de iluminação do Cristo foi o “Outubro Rosa”. Há muitos anos a Gisella Amaral me procurou porque gostaria de fazer uma campanha de conscientização sobre o câncer de mama, um tema tão sensível para as mulheres. Ela me perguntou se podíamos fazer alguma uma missa. Mais que isso, pensei em fazer uma intervenção, em iluminar o Cristo. Ainda não tínhamos o atual sistema de iluminação. Percorri as lojas do SAARA, comprei umas películas de gelatina cor-de-rosa e coloquei sobre os antigos refletores na base do Cristo Redentor. A missa não podia passar de meia hora porque o calor dos refletores ia derreter as folhas coloridas. Foi tudo muito rápido.

A partir daquele dia, do primeiro “Outubro Rosa” que fizemos no Cristo, percebemos a força dessa comunicação simbólica, que visaria o Bem Comum em torno dos temas que estavam precisando de visibilidade. Optamos por questões mais sensíveis aos cidadãos e principalmente temas ligados a saúde. Hoje, algumas datas já fazem parte do calendário fixo, tais como “Novembro Azul”, causas importantes e homenagens a países. Estamos pensando no Bem Comum. E essa é mais uma forma de o Cristo se mostrar solidário. São pequenos gestos com a utilização de tecnologia a serviço de temas de interesse geral que consolidam o Cristo Redentor como esse grande símbolo de acolhimento que visa o Bem Comum. Mas, para cada ativação de campanha, ou intervenção no Santuário seja aceita, seguimos critérios como o respeito à sacralidade do monumento e o princípio do Bem Comum.

O Cristo Redentor é um agregador, congregador e dissipador de valores e de boas práticas nesse sentido.
Porque, sobretudo, é um comunicador, do ponto de vista simbólico.
A palavra símbolo vem do grego símbolos (aquilo que aproxima, integra e congrega). O Cristo Redentor, como símbolo, em essência é agregador. É a realidade simbólica que comunica valores


Outra referência simbólica do Cristo é que o monumento foi moldado pelo Bem Comum. Quando foi pensado, a primeira mobilização foi um abaixo-assinado feito por mulheres destinado ao presidente Epitácio Pessoa pedindo a cessão da área para a Igreja construir o monumento. Depois, a mobilização em torno dos fundos para viabilizar a construção do Cristo. Na sequência, esse Bem Comum consolidou uma rede - um ‘tecido social’ - que construiu o manto que reveste o Cristo em pedra-sabão, onde o nome de todos os doadores e pessoas envolvidos na construção, de todas as faixas etárias, condições econômicas, culturas, está marcado. Não foi apenas um Cristo para os católicos ou pensado pelos católicos. Teve a aceitação de todos. Mais recentemente, novamente, quando houve campanha das Novas Sete Maravilhas do Mundo Moderno, os brasileiros participaram massivamente. Todo mundo gosta do Cristo.
Esse é o símbolo que nos representa.

O tema da Agenda 2030, com os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), firmados pela ONU, também está alocado no nosso setor do Cristo Sustentável. Vale dizer que cada uma das 17 ODS que compõem a Agenda 2030 só têm a sua pertinência na medida em que são construídas pelo interesse comum ou são viabilizadas de forma coletiva. Não existe uma ODS que vise apenas um indivíduo. E a igreja Católica como estado, a Santa Sé, é signatária, assim como o governo brasileiro, da Agenda 2030. Esse compromisso também é amarrado institucionalmente pela Igreja Católica em um patamar universal. E a Igreja Católica é observadora atenta para que ideologias perversas com objetivos individuais não se apropriem dessa agenda, em detrimento dos princípios do Bem Comum. Como no corpo do Cristo em que todo mundo colocou pedrinha de sabão, todo mundo participa.

A política sustentável do Santuário nos mostra que temos que migrar da ação assistencialista para o empreendedorismo. Este é o pulo do gato. Esse processo se dá no fomento à incubadora de empreendedorismo social. É preciso trabalhar a capacitação de pessoas para que possam rearrumar a vida em uma condição digna.
É isso que estamos executando.

E, tal qual durante sua construção, hoje, a metodologia de trabalho do Santuário visa a arregimentação de voluntários. O voluntariado é o próximo passo a ser consolidado no Cristo Redentor. Já temos tecnologia para termos o maior projeto de voluntariado do Brasil, para ações sociais, ambientais e de desenvolvimento econômico. A concretização disso será um grande legado, porque o Bem Comum é executado através de braços. O Bem Comum é resultado de ações colaborativas. Adotando o conceito colaborativo, não se fica apenas na dimensão da partilha, que nos dá a sensação de estarmos apensas ajudando. A partilha ajuda, mas o colaborativo significa construir junto. E nos permite nos libertamos do vitimismo ou da necessidade que o assistencialismo atende.

Em nossas ações sociais durante a pandemia o Princípio do Bem Comum foi exercitado de forma campeã. Tivemos o maior balanço social do país. A FGV nos doou um software para podermos fazer a gestão das doações e a destinação de tudo: dinheiro, alimentos. Com uma provocação à adesão – “Cristo, eu quero doar”, fizemos lives, leilão, trabalhamos várias campanhas integradas, incluindo um cartão recarregável destinado a pessoas de comunidade para que pudesse movimentar e economia local.
Com este modelo colaborativo, a campanha do Santuário se tornou a grande campanha da Igreja Católica no Brasil.

Certa vez distribuindo comida na rua também durante a pandemia, uma pessoa situação de rua me perguntou de onde eu era. Eu disse: Sou lá do Cristo. Estávamos no Centro do Rio, próximos ao prédio da Academia Brasileira de Letras. Dava para ver o Cristo dali. Ele apontou e perguntou: Ali? Eu confirmei e ele me disse que, por muitas vezes os únicos braços abertos que havia visto na minha vida eram os do monumento lá em cima na montanha. Aí eu disse para ele uma frase que virou uma de nossas frases de campanha: então hoje o Cristo desce a montanha para fazer o bem. Nossas ações sociais reportam isso. O Cristo desce a montanha para fazer o bem.
Para gerar o Bem Comum, para consolidar a sua força simbólica através da solidariedade.

A Igreja atua de forma assistencialista em caso emergencial, como na pandemia. Nossos projetos sociais não são apenas de dar alimentos. A política sustentável do Santuário nos mostra que temos que migrar da ação assistencialista para o empreendedorismo. Este é o pulo do gato. Esse processo se dá no fomento à incubadora de empreendedorismo social. É preciso trabalhar a capacitação de pessoas para que possam rearrumar a vida em uma condição digna. É isso que estamos executando. A mulheres gestantes em situação de vulnerabilidade social que são atendidas por nossos projetos sociais, damos alimento, ajuda, auxiliamos no pré-natal, em cuidados com a saúde da mulher. Porém esta mulher na pandemia, com marido desempregado, precisa fazer algo. Trazemos essas moças para ensinar coisas que possam ser feitas mesmo estando gestante - algo que lhe dê algum recurso para ajudar no sustento: artesanato, culinária, ensino do computador, call-centers estão recrutando pessoas assim. Temos parceiros institucionais que nos ajudam nestes projetos como o Sesc, a Fecomercio, o Sol Artesanato, que é a base para criarmos essa capacitação.
Na relação política, partimos do conceito que Igreja e Estado são instituições autônomas e independentes. Porém, devem colaborar entre si, em vista em do Bem Comum.

A ponta de diálogo da Igreja Católica e do estado secularizado, laico, reside no Bem comum. A Igreja precisa ser imparcial para que possa exercitar o Bem Comum, apoiando e colaborando com o Estado, com todos e a todos. O Cristo Redentor não é nem de direita, nem de esquerda. Somos bastante assediados no Santuário do Cristo Redentor por grupos partidários de diversas bandeiras e segmentos, para que eu dê algum tipo de apoio, dê visibilidade. E sempre digo: Igreja e Estado são autônomos e independente, e devem cooperar entre si em vista do Bem Comum. O Cristo nunca vai se permitir a tendências político-partidárias. Ao contrário. Ele vai apoiar as causas que visam o Bem Comum, que respeitem os princípios constitucionais. Se uma causa estiver entrelaçada com a doutrina social da igreja, com a constituição brasileira, a Sagrada Escritura e com bom senso, apoiamos sempre. Diante da sociedade polarizada, o Cristo Redentor abre seus braços estendidos para a esquerda e a esquerda e mostra que tem o coração no meio. É no coração do Cristo Redentor que reside o Bem Comum. É o amor o princípio do Bem Comum - centralizado, equilibrado.

O coração, no imaginário do deficiente visual, é tido como o ambiente simbólico estrutural onde reside o amor. E para que essas pessoas possam sentir uma perspectiva do cristo tátil, acabamos escanear a réplica em tamanho real do coração do monumento, que agora fica exposta na capela do Santuário. Quando eles passam a mão no coração do Cristo Redentor, sentem “vida” e entendem que é o Cristo Redentor. Este coração foi feito para celebrar os 90 anos do Santuário, mas vamos rodar com ele. Vai ser itinerante.

O Cristo Redentor esteva fechado para o turismo durante a pandemia, mas não saiu do cenário mundial dia nenhum. Toda semana tinha um mapping, uma iluminação, uma live. Ele se vestiu de médico. Aceitou criar uma consciência com vistas ao Bem Comum. Quando as pessoas estavam sendo egoístas, ele vestiu a máscara, posicionando-se em prol do Bem Comum. Precisou do respirador e recebeu alta, sobreviveu à pandemia. Teve expressiva repercussão nas mídias sociais e na internet por várias vezes. Mostrou que não precisa do turismo para ser Cristo Redentor. Continua sendo o Cristo Redentor que cria intervenções importantes na cidade do Rio de Janeiro, no país e no mundo. Enquanto estavam todos parados, ele se manteve iluminado. Restou o símbolo no alto da montanha, inatingível em relação ao Covid. O grande vitorioso foi ele.
A nossa responsabilidade de ser um púlpito do Brasil, um lugar de comunicação máxima do país, com geração de mídia espontânea favorece ampliação de grandes campanhas de interesse social, mas precisamos absorver com cautela e critério o que nos é trazido como proposta.

Temos um núcleo, uma curadoria multidisciplinar no Cristo Redentor que ajuda a fazer essa análise criteriosa para convênios e de modo especial, adotamos a política de compliance, realizada pela KPMG, que é uma realidade muito importante para garantir a normatização. É um compliance robusto, customizado para a nossa realidade, criando uma política de integridade e conformidade. Uma forma de prestar contas à sociedade com transparência.
É um Bem Comum que não é apenas comunicado para fora, mas é experimentado também entre os membros que compõem o Cristo Redentor, entre os parceiros mais próximos, funcionários, colaboradores, voluntários, padres, toda a nossa dimensão relacional. Se o Santuário do Cristo Redentor é um ativo que traz mais de R$ 1 bilhão o Rio de Janeiro por ano, precisa estar salvaguardado em uma política de integridade. O compliance se insere na lógica do Bem Comum porque é preciso ter transparência no processo para fidelizar as pessoas. Eu tenho que fazer entregas corretas. E o Cristo é um símbolo educador.
É proativo é precursor em muitas coisas. E um lugar de muitas possibilidades e convergências.

“O compliance se insere na lógica do Bem Comum porque é preciso ter transparência no processo para fidelizar as pessoas. Eu tenho que fazer entregas corretas. E o Cristo é um símbolo educador. É proativo é precursor em muitas coisas. E um lugar de muitas possibilidades e convergências”

1 Expressão usada pelo filósofo alemão Gottfried Wilhelm Leibniz. Este artigo foi publicado no Livro Cristo 90+ de braços abertos para o amanhã. Estudo da FGV Projetos em parceria com o Santuário Cristo Redentor.

RBCE
©Copyright  |  FUNCEX  |  Todos os direitos reservados