Eduardo Daher é economista, administrador de empresas e consultor da Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG)
MOMENTO ATUAL
Já se tornou reconhecida e redundante a importância do agro na economia brasileira. Com uma velocidade extrema, o país saiu, na década de 1970, da posição de importador para ser o segundo maior exportador mundial de alimentos, na atualidade.
Em 2021, o agro representou 29% do PIB nacional, com uma receita da ordem de R$ 2,5 trilhões, segundo a Conab. Já suas exportações somaram US$ 59 bilhões, perfazendo 43% do total da nossa balança de pagamentos. Cabe destacar ainda que a atividade, respeitada a sazonalidade, emprega aproximadamente 14 milhões de indivíduos.
A partir de 1980, o PIB do agro na cadeia de produção nacional apresenta a distribuição, conforme o conceito “agronegócio”, traduzido do termo agribusiness, criado por Harvard na década de 1950:
Indústria de insumos (12%): antes da porteira
Agropecuária (30%): dentro da porteira
Agroindústria (27%): dentro da porteira
Serviços (31%): pós-porteira
A posição de destaque obtida pela atividade do agronegócio brasileiro está fortemente correlacionada com o termo “diversidade”, uma vez que o país oferta em nível global uma série de produtos, ou seja, “não carrega todos os ovos em uma só cesta”.
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No que diz respeito à diversidade de mercados, segundo a FGV, exportamos para mais de 160 mercados. Em 2020, os produtos nacionais chegaram aos seguintes destinos:
- China – 33,7%
- Ásia – 18,5% (*menos China e Oriente Médio)
- União Europeia – 16,2%
- Estados Unidos 6,9%
- Oriente Médio – 6,3%
- África – 6,1%
- Aladi – 3,7%
- Mercosul – 3,0%
- Europa Oriental – 2,0%
- Outros – 3,6%
MOMENTO DE TRANSIÇÃO
“O sucesso que nos trouxe até aqui, não será o mesmo para o novo ciclo!!”
O conceito do agronegócio no país, agora, mostra-se, comprovadamente, como uma potência agroambiental, embora o IBGE e a Embrapa divulguem que, desde 2016, o uso agropecuário da terra representa 30,2%; e preservam-se outros 66,3% das áreas (incluindo aí 20,5% de vegetação preservada dentro dos imóveis rurais). Entretanto o mercado nacional e sobretudo o comércio internacional aplicam enfaticamente os conceitos de sustentabilidade e a sigla da moda ESG (Environmental, Social and Governance).
A busca por diferentes práticas agrícolas, a adoção da agricultura de precisão, o plantio direto, ILPF, bioinsumos, e as exigências de certificação tendem a, paulatinamente, tornarem-se mais conhecidos e adotados.
No que se refere a crédito e financiamento, a participação de novos players e agentes dos mercados financeiros amplia a forma de se investir e gerar recursos para financiar o setor, que, até então, era fortemente dependente dos bancos públicos e privados. Os LCAs, Fiagros, CRAs e a prática de barter por parte das empresas de insumos são exemplos visíveis dessa mudança de comportamento, incluindo-se o aumento da adoção de seguro rural.
Cabe-nos também acompanhar as mudanças recentes na área de revendas e/ou distribuidores de insumos que vêm sendo adquiridos e/ou fusionados por bancos, fundos de investimentos e grandes empresas multinacionais com objetivos diversos, mas, com parte deles voltada a originação de grãos e maior proximidade e intimidade com o mercado do agronegócio.
Já na área de tecnologia e inovação, é visível e notória a adoção e difusão dos meios digitais junto ao mercado. Deve-se considerar, entretanto, que a pandemia acelerou esse processo e, como efeitos colaterais, as dificuldades e queixas crescentes no que diz respeito à conectividade nas áreas rurais. A adoção de drones e máquinas autônomas trazem uma tremenda dificuldade em obter mão de obra qualificada, além de uma futura redução na geração de novos empregos.
No terreno da logística aparecem novas extensões ferroviárias, com ênfase nos centros intermodais, na medida em que os trens não chegam até as portas dos armazéns e depósitos das fazendas. Na área portuária permanecem as mesmas dificuldades e custos históricos, sendo notórias as exceções de portos com maior calado, usualmente destinados às exportações de minérios de ferro, como os portos de Tubarão e Itaqui.
MOMENTO FUTURO
De forma resumida e tendo como base posições de organizações públicas internacionais, devemos focar no quesito da segurança alimentar.
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Destaca-se uma série de pontos, tidos como indiscutíveis, com claras evidências publicadas na Revista Farm Chemicals International, que persistem válidas até hoje:
1) China e Índia continuarão a comprar alimentos – com 1,4 bilhão de habitantes (China) e 1,36 bilhão (Índia), representam juntos 35% da população mundial e 35% do faturamento do atual agro brasileiro.
2) Proteína animal depende também da proteína vegetal – segundo a Embrapa, para se obter 1 kg de carne de frango é necessário, em média, 2 kg de milho/soja. No caso de suínos, para cada 1 kg, consome-se 4 kg de proteína vegetal e, por fim, mesmo com os bovinos a pasto, o mercado de rações demanda 7/8 kg de grãos para geração de arrobas.
3) Regulamentação progressivamente rigorosa na área ambiental – evidenciado na percepção mundial de que os usos de ar e água são finitos agravados pelos riscos nucleares, pós Chernobil e Fukushima. Passados 30 anos da Eco 92 as atenções concentram-se atualmente nas COP 25, 26 e 27.
4) Investimentos acelerados em biotecnologia – em outras palavras, significa dizer que OGMs e controles biológicos continuarão a ganhar mercado por sobre as moléculas químicas historicamente utilizadas. Produtos ditos especiais, melhoramento genético, transgenia, edição genômica, além de biofertilizantes e biopesticidas ganham espaço na nutrição e saúde das lavouras.
5) Crescentes investimentos em inovação tecnológica e marketing – a adoção de tecnologias da informação, como imagem de satélites, drones, inteligência artificial promovendo economia de recursos. No marketing, o impulsionamento de valor agregado com o consumo e a difusão dos “prontos para beber”, bem como o exemplo de cápsulas de café são parte das mudanças de consumo que vieram para ficar, além das estratégias ditas de green label, em que termos e formulações que envolvam as expressões: diet, no sugar, low carb, light, bio, zero, natural e orgânico como sendo promotores de preferência e aumento do volume de vendas quando expostos nos pontos de vendas.
6) Clientes em mutação constante – a razão da existência e de todo empenho do agronegócio brasileiro está no cliente/consumidor final de seus produtos. Do antigo armazém da esquina de nossas casas, com extrema fidelidade, entrega em domicílio, e a “caderneta” que se pagava nos finais dos meses evoluiu-se para o autosserviço em que os supermercados (ou hipermercados) passaram a dominar no ambiente de distribuição. Atualmente, derivados do mundo digital e da pandemia surgem os clientes cada vez mais racionais, críticos, exigentes, individualistas e “antenados” cujas decisões de consumo ocorrem on line sem qualquer relação interpessoal que permita uma fidelização dos consumidores e produtores agroindustriais. Os canais de distribuição, sua logística, praticidade e comparação de preços são os novos pilares que geram as decisões de compra.
Por fim, vale destacar que tais posições não implicam a adoção de uma nova postura ou tendência, sendo eliminadas as posições historicamente já existentes.