Boletim de Balança Comercial - 01/2024

Em foco
  • A expansão de 9,5% nas exportações nesse último mês do ano foi acompanhada por um incremento modesto de 1,7% no acumulado anual. Estes dados refletem uma trajetória de crescimento nas transações comerciais externas do Brasil, como pode ser visto na Tabela 1 e no Gráfico 1. No que tange à classificação por classes de produtos, os dados destacam um cenário heterogêneo. Produtos básicos, que compõem a parcela mais significativa da pauta exportadora, demonstram um crescimento de 13,9% em dezembro, consolidando um aumento de 4,9% tanto no acumulado do ano quanto nos últimos doze meses. Esta categoria, preponderantemente constituída por commodities, evidencia não somente a dependência do Brasil em relação a esses produtos no comércio exterior, mas também um fortalecimento da demanda internacional que tem propiciado um incremento nas vendas externas. Os semimanufaturados, por sua vez, revelam um contraste entre a variação mensal positiva de 16,1% e a retração anual de 1,7%. Em contraposição, os manufaturados apresentam uma leve retração de 1,0% no mês e uma queda mais acentuada de 3,1% no acumulado do ano, sinalizando questões relacionadas à competitividade destes bens de maior valor agregado.

Gráfico 1. Dados das Exportações e Importações de 2023
Variação em relação ao período anterior (Em %)


Fonte: Elaborado pela Funcex a partir de dados da Secex/ME.

  • No que diz respeito às grandes categorias econômicas, os bens de capital, apesar de uma diminuição mensal de 4,0%, exibem um crescimento substancial de 18,2% no ano. Os bens intermediários, com um expressivo aumento de 20,3% em dezembro, corroboram com o fortalecimento das cadeias produtivas internas e da demanda por insumos industriais e agrícolas. Cabe destacar que essa categoria absorve a maior parte do espectro exportador (66.2% do total exportado em 2023).
  • A situação dos bens de consumo duráveis e não duráveis foi mais complexa. A marcante queda de 17,1% nos bens duráveis no último mês do ano sinaliza uma retração na demanda externa, enquanto o crescimento de 12,3% nos bens não duráveis pode ser entendido como uma recuperação pontual que não se traduziu no acumulado anual, onde se observou uma diminuição de 2,1%. Por fim, a categoria de combustíveis refletiu as flutuações do mercado energético global, com uma queda de 16,4% em dezembro, acompanhando a tendência de contração observada ao longo do ano, como pode ser visto na Tabela 1.
  • No mês de dezembro de 2023, o total das importações brasileiras apresentou um valor de 19.479 milhões de dólares, refletindo uma contração de 10,7% em relação ao mês anterior. No acumulado do ano, bem como nos últimos doze meses, a contração foi de 11,7%, totalizando 240.835 milhões de dólares. Nas grandes categorias econômicas, os bens de capital tiveram um aumento de 4,7% no mês de dezembro, alcançando 2.662 milhões de dólares, o que representa um crescimento de 5,3% no ano e nos últimos doze meses. Esses números indicaram um investimento em capital produtivo, apesar da retração geral, e corresponderam a 13,7% das importações do mês de dezembro de 2023, um pouco acima de sua participação nos últimos doze meses, que foi de 12,3%.
  • Como pode ser visto na Tabela 2, os bens intermediários, que representam a maior fração das importações, com 58% no mês e 60,7% nos últimos doze meses, tiveram um declínio de 10,6% em dezembro, somando 11.300 milhões de dólares. No acumulado anual e nos últimos doze meses, a queda foi ainda mais acentuada, de 15,3%, totalizando 146.093 milhões de dólares. Esta retração está relacionada à diminuição da atividade industrial. De acordo com dados disponíveis da CNI, em novembro de 2023, os indicadores da pesquisa Sondagem Industrial sinalizam enfraquecimento da atividade econômica do setor, com recuo na produção industrial e no número de empregados na indústria, ainda que de forma mais branda que o usual para o período.
  • Bens de consumo duráveis, por sua vez, apresentaram um crescimento notável de 97,7% no mês de dezembro, atingindo 953 milhões de dólares. As importações de bens de consumo não duráveis mostraram um aumento de 4,6% em dezembro, com um valor de 2.067 milhões de dólares, e um crescimento de 11,1% no ano, indicando um mercado interno resiliente para produtos de consumo imediato, que representaram 10,6% das importações no mês e 10,1% nos últimos doze meses. Por fim, a categoria de combustíveis teve uma redução significativa de 39,8% em dezembro, com importações que somaram 2.490 milhões de dólares. No ano, a redução foi de 26,7%, influenciada pela volatilidade dos preços globais do petróleo. A participação dos combustíveis nas importações foi de 12,8% no mês e 13,4% no acumulado dos últimos doze meses (Tabela 2).
  • O índice de rentabilidade das exportações brasileiras em novembro de 2023 revelou uma complexa e multifacetada performance comercial do país. O índice geral para o Brasil se situou em 116,1 pontos, marcando um aumento modesto de 1,8% tanto em relação ao mês anterior quanto ao mesmo período do ano passado. Contudo, essa elevação mensal e anual contrastou com uma tendência de declínio no acumulado do ano e dos últimos doze meses, onde se observou uma retração de 3,1%. A evolução do índice de rentabilidade das exportações brasileiras ao longo dos meses, apresentados no Gráfico 2, reflete a saúde econômica do setor exportador do país. Observando o período de janeiro de 2022 a novembro de 2023, percebe-se um início de ano fortalecido, com o índice posicionado em 117,5, seguido por uma tendência de declínio suave, atingindo seu ponto mais baixo em agosto de 2023 com um índice de 108,1. Os exportadores, neste período enfrentaram flutuações cambiais e queda na demanda global. No entanto, a partir de setembro de 2023, há uma recuperação gradual, culminando em um aumento para 113,6 em novembro, indicando o ajustamento às condições de mercado e a melhoria na competitividade internacional das exportações brasileiras via desvalorização do câmbio e redução de custos.
  • Como pode ser visto na Tabela 7, A taxa de câmbio nominal, que alcançou 148,8 pontos, refletiu uma depreciação da moeda brasileira de 3,3% em relação a outubro e uma queda mais significativa de 7,1% em comparação a novembro do ano anterior. Cabe destacar que a desvalorização da moeda, neste caso, é potencialmente benéfica para a competitividade das exportações ao tornar os produtos brasileiros mais acessíveis no mercado global. Os preços das exportações, que atingiram o índice de 126,4 pontos, sofreram uma diminuição de 1,8% desde outubro e uma redução mais substancial de 4,1% em relação ao ano anterior. Por fim, o custo de produção, que registrou um índice de 162,0 pontos, apresentou uma queda acentuada de 6,7% em comparação com o mês anterior e uma retração ainda mais pronunciada de 12,5% frente a novembro do ano passado. As variações negativas no acumulado do ano e nos últimos doze meses, de 6,7% e 5,9% respectivamente, exerceram forças positivas na rentabilidade do exportador.

Gráfico 2. Evolução do índice de rentabilidades das exportações brasileiras
Média móvel de três meses – base do índice dezembro de 2017 = 100


Fonte: Elaborado pela Funcex a partir de dados da Secex/ME.

  • Os índices das taxas de câmbio de novembro de 2023, como descrito na Tabela 8, apresentam um panorama misto da economia brasileira em relação às suas moedas de referência. Observou-se uma desvalorização do real frente ao dólar americano (R$/US$) e ao euro (R$/€$), tanto no Deflator IPA quanto no IPC. Por outro lado, a valorização frente à ALADI (R$/ALADI) revelou uma melhor performance do real frente a moedas de países latino-americanos. Como pode ser visto na Tabela 8, a maior queda foi registrada frente ao BRICS (R$/BRICS), indicando uma desvalorização considerável do real em relação às moedas dos países do bloco econômico. A cesta de 14 moedas também mostrou uma desvalorização do real, apontando para uma tendência de enfraquecimento da moeda brasileira no contexto global.
Análise do Saldo comercial brasileiro de bens manufaturados segundo principais exportadores

No ano de 2023, o saldo comercial brasileiro de bens manufaturados revelou mudanças significativas quando comparado ao ano anterior, especialmente no que se refere à relação com seus principais parceiros comerciais. Uma das alterações mais notáveis foi a redução do déficit no comércio com os Estados Unidos, passando de um saldo negativo de -25.418 milhões de dólares em 2022 para -13.924 milhões de dólares em 2023.

Outra mudança digna de nota foi o incremento do superávit com a Argentina, que cresceu de 3.913 milhões de dólares em 2022 para 4.099 milhões de dólares em 2023. Este resultado mostrou uma expansão do mercado para os produtos manufaturados brasileiros para o mercado argentino.

Em contraste, a relação comercial com a China continuou a apresentar um déficit substancial, embora tenha havido uma leve melhoria, passando de -57.788 milhões de dólares em 2022 para -50.226 milhões de dólares em 2023. Essa situação ressalta a complexa dinâmica do comércio entre as duas maiores economias da América Latina e da Ásia. A persistência desse déficit acentuado levanta questões sobre a capacidade do Brasil de competir com os produtos chineses em termos de preço e qualidade e a necessidade de uma revisão estratégica para equilibrar essa relação comercial.

Portanto, no contexto das exportações brasileiras em 2023, observa-se uma dicotomia entre o desempenho global e o setor específico de bens manufaturados. De maneira geral, o país experimentou um desempenho positivo nas exportações totais, no entanto, a análise pormenorizada dos bens manufaturados revela uma realidade menos auspiciosa. Houve uma retração no valor das exportações de manufaturados em comparação com o ano de 2022, o que, paradoxalmente, não se traduziu em um saldo comercial negativo mais acentuado devido a um decréscimo nas importações, particularmente daquelas originárias dos Estados Unidos.

A Argentina manteve-se como o segundo maior destino das exportações brasileiras de bens manufaturados, o que evidencia a continuidade de sólidas relações comerciais entre os dois países. Além disso, a estabilidade é marcada pela presença quase inalterada dos principais exportadores de 2022 na lista do ano seguinte, com 24 dos 25 mantendo suas posições, denotando uma notável persistência nos mercados tradicionais e uma ausência de novos mercados principais emergindo no panorama comercial brasileiro.

Portanto, a transição de 2022 para 2023 pode ser caracterizada como uma ligeira regressão para o setor de bens manufaturados do Brasil. Sem a abertura de novos mercados significativos e com uma diminuição nos valores exportados.

Tabela I. Saldo comercial brasileiro de bens manufaturados segundo principais exportadores. Os parceiros comerciais estão em ordem decrescente do valor exportado em cada ano


Nota: * inclusão em 2023 em relação a 2022, **Exclusão de 2022 em relação a 2023.
Fonte: Elaborado pela Funcex a partir de dados da Secex/ME.

Informações disponíveis até 16/01/2024

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