Boletim de Comércio Exterior - 01/2024

Em foco
  • Os Índices de preços referentes a dezembro de 2023 apresentaram um comportamento diversificado, o Índice total de preços das exportações brasileiras evidenciou uma retração de 0,8% no último mês do ano, com um aprofundamento dessa tendência negativa ao longo do ano, resultando em uma queda acumulada de 6,5% nos últimos doze meses, como pode ser visto na Tabela 1. Com relação às variações por classe de produto, os produtos Básicos, que são indicativos da sensibilidade do mercado às flutuações dos preços internacionais das commodities, declinaram 2,8% no último mês de 2023, somando uma diminuição total de 10,2% ao longo do ano. Como destacado pelo FMI (International Monetary Fund), o Índice Primary Commodity Prices (All Commodity Price Index, 2016 = 100, includes both Fuel and Non-Fuel Price Indices) em 2023 alcançou uma média mensal de 166,14 pontos, ao passo que em 2022 o Índice tinha alcançado, na média, 215,9, apresentando uma queda de 23,1%, refletindo as significativas oscilações nos mercados e reafirmando o resultado apresentado pelos preços dos produtos Básicos brasileiros.
  • Os produtos Semimanufaturados apresentaram uma trajetória ascendente no último mês, com um aumento de 3,2% nos preços, ainda que o ano e os últimos doze meses revelem uma contração de 2,0%. Os produtos Manufaturados também registraram uma elevação de preços de 1,5% no mês, apesar de uma redução anual de 1,0%, indicando uma tendência de recuperação ou realinhamento às demandas do mercado global. Os dados apresentados estão alinhados aos apresentados pela OMC, o Índice nomeado por Global Trade Barometers data base, que nos últimos meses de 2023 apresentou valores superiores a 100, indicando volumes de comércio mundial acima da tendência recente (Tabela 1).
  • Os Bens de capital destacaram-se com um aumento significativo de 3,9% no último mês, acompanhado de uma expansão de 7,3% no acumulado do ano, refletindo uma dinâmica positiva. Os Bens intermediários, por sua vez, mostraram um incremento modesto de 0,3%, que não foi suficiente para contrabalançar a queda anual de 5,4%. No tocante aos Bens de consumo duráveis, observou-se um crescimento de 5,7% no último mês, com uma acumulação de 6,1% na variação anual. Em contraste, os Bens de consumo não duráveis apresentaram uma diminuição de 2,2% no mês, com uma redução de 4,3%, tanto no ano, quanto nos últimos doze meses.
  • O setor de Combustíveis enfrentou uma retração de 2,6% no último mês de 2023, ampliando para uma queda expressiva de 17,0% no acumulado do ano. O Gráfico 1 mostra a evolução temporal do Crude Oil (petroleum) Price index, 2016 = 100: Média simples de três preços spot: Dated Brent, West Texas Intermediate (WTI) e Dubai Fateh. Como pode ser visto, o Índice atingiu 182,4 pontos em dezembro de 2023, contra 189,3 em 2022, apresentando uma contração de aproximadamente 3,6% no Índice de um ano para o outro. O resultado corrobora com a variação dos preços do setor de Combustíveis supracitada.

Gráfico 1. Índice de Preços Petróleo Bruto – Média simples de três preços spot:
Brent, West Texas Intermediate e Dubai Fateh. Base: 2016=100


Fonte: FMI.

  • Em dezembro de 2023, como pode ser visto na Tabela 2, o panorama dos Índices de preço das importações brasileiras revelou uma tendência predominantemente decrescente. O Índice total mostrou uma contração significativa de 8,0% no mês, concluindo o ano com uma queda acumulada de 8,7%. No que tange aos Bens de capital, os números divergiram da tendência geral, registrando um notável aumento de 5,6% em dezembro, fechando o ano com um aumento acumulado de 4,6%. Este crescimento é um indicativo de vigor nos investimentos em equipamentos e infraestrutura, sugerindo uma expectativa otimista das empresas em relação ao futuro econômico do país. As expectativas da indústria, conforme refletidas pelo Índice de Confiança do Empresário Industrial (ICEI), corroboram essa percepção otimista. Após uma oscilação durante os primeiros meses de 2023, houve uma recuperação gradual no sentimento dos empresários. Em janeiro de 2024, o ICEI atingiu 53,2, pontos, um indicativo de confiança na economia que superou as expectativas do mercado. A confiança na economia brasileira, especificamente, também melhorou, passando de 46,3 em dezembro de 2023 para 50,1 pontos em janeiro de 2024, refletindo uma visão mais positiva quanto à performance econômica futura, conforme divulgado pela CNI.
  • Por outro lado, os Bens intermediários sofreram um revés acentuado, com uma queda mensal de 12,1% e anual de 10,8%. Quando observamos os Bens de consumo duráveis, houve um ligeiro incremento de 0,8% em dezembro, acumulando um crescimento de 0,6% ao longo de 2023. Em contraste, os Bens de consumo não duráveis apresentaram uma diminuição mensal de 1,1%, contudo, o ano de 2023 foi marcado por um aumento de 5,3% nessa categoria. De forma mais expressiva, o setor de Combustíveis registrou uma queda de 7,8% no último mês de 2023, com um recuo de 18,7% ao longo do ano. O declínio neste segmento acompanhou, assim como o Índice de preço das exportações de combustíveis, a tendência de baixa nos preços globais do petróleo (Vide Gráfico 1 e Tabela 1).
  • Em dezembro de 2023, a análise do Índice de quantum das exportações brasileiras revelou um quadro de expansão em diversas categorias. O Índice geral de exportações do Brasil aumentou significativamente, alcançando um crescimento de 8,7% no mês, que se manteve constante no acumulado do ano. Ao detalharmos por classe de produto, os produtos Básicos tiveram uma performance excepcional, com um crescimento de 14,2% no mês de dezembro, refletindo um aumento expressivo de 16,6% no ano, (Gráfico 2 e Tabela 1).
  • Os produtos Semimanufaturados também mostraram robustez, com um aumento de 12,1% no quantum de exportação em dezembro, embora o crescimento anual tenha sido praticamente estável, com uma variação de apenas 0,3%. Por outro lado, os produtos Manufaturados tiveram uma redução de 2,8% no mês, acumulando uma queda de 2,2% ao longo do ano. Quanto às grandes categorias econômicas, os Bens de capital apresentaram uma diminuição de 7,7% no quantum exportado em dezembro, mas isso não ofuscou o crescimento anual de 10,2%, indicando um balanço anual positivo. Já os Bens intermediários, como pode ser visto na Tabela 1, tiveram um excelente desempenho, com um salto de 18,1% no mês e uma ascensão de 8,3% no ano.

Gráfico 2. Índices de quantum de exportação. Taxa de crescimento mensal e acumulado
no ano para total das exportações e classes de produtos


Fonte: Elaborado pela Funcex a partir dos dados da Secex/ME.
Notas: Vide o apêndice metodológico.

  • Como pode ser visto na Tabela 1, em dezembro de 2023 os Bens de consumo duráveis enfrentaram uma retração acentuada de 21,7%, com uma queda anual de 13,4%, comparado aos mesmos períodos de 2022. Os Bens de consumo não duráveis e os Combustíveis, no entanto, tiveram incrementos notáveis em dezembro, com aumentos de 14,8% e 15,5%, respectivamente, e crescimentos no acumulado do ano de 2,4% para os Não duráveis e de 16,9% para os Combustíveis.
  • No mês de dezembro de 2023, o Indice de quantum importado pelo Brasil apresentou dinâmicas distintas entre as diferentes categorias econômicas. De maneira geral, o total das importações brasileiras registrou uma retração de 3,2% no mês, o que também reflete a variação acumulada no ano e nos últimos doze meses, indicando uma tendência de contração nas importações ao longo do período. Analisando as grandes categorias econômicas, os Bens de capital apresentaram uma ligeira diminuição de 0,8% no último mês do ano. No entanto, o acumulado do ano ficou positivo em 0,7% (Tabela 2). Em contraste, os Bens intermediários tiveram um pequeno crescimento de 1,2% em dezembro. Apesar disso, o quantum importado nessa categoria mostrou uma redução de 5,1% no ano. Os Bens de consumo duráveis tiveram um surpreendente aumento de quantidade importada, elevação de 96,3%, na comparação mensal, e um crescimento de 39,8% no acumulado do ano. Os Bens de consumo não duráveis também registraram um crescimento, com um aumento de 5,9% no mês de dezembro e de 5,5% no acumulado do ano. No setor de Combustíveis, como pode ser evidenciado na Tabela 2, observou-se uma significativa queda de 34,4% no quantum importado em dezembro, culminando em uma redução anual de 9,9%, comparado a 2022.
  • O Índice de termos de troca do total brasileiro teve um aumento mensal de 7,8% e anual de 2,4%, sugerindo uma melhoria na relação entre o que o país recebe por suas exportações, em comparação ao que paga por suas importações (Vide tabelas 1, 2 e 3). Paralelamente, a Razão de quantum cresceu 12,7% no mês e 11,9% no ano, indicando um aumento na quantidade de bens que o país pode importar para cada unidade de exportação.
  • Analisando os setores, a Agricultura e pecuária sofreram uma queda nos termos de troca (-5,0% no ano), mas tiveram um aumento expressivo na razão de quantum (54,1% no ano), a Produção florestal teve um aumento de 9,6% nos termos de troca, mas uma queda acentuada na razão de quantum (-30,7% no mês). Como pode ser visto na Tabela 3, os setores como a Extração de petróleo e gás natural e a Extração de minerais não-metálicos apresentam aumentos consideráveis tanto nos termos de troca, quanto na razão de quantum, gerando uma situação favorável, tanto em preço, quanto em quantidade, em relação ao mercado internacional. Setores como a Pesca e aquicultura, Produtos têxteis e Veículos automotores apresentam quedas em ambos os índices, indicando uma condição menos vantajosa, tanto em termos de preços, quanto de quantidade, em comparação ao ano anterior.
Reflexos da Redução do Quantum Importado sobre a Produção Física Industrial em 2023: Desafios e Perspectivas
  • Em 2023, observou-se uma queda de 5% no quantum importado de Bens intermediários, contrastando com o crescimento previamente registrado, como pode ser visto no Gráfico 3. Esta redução evidencia uma substituição de produtos domésticos por importados na produção industrial brasileira, fenômeno que vinha sendo notado em anos anteriores. A Produção física da indústria de transformação, entretanto, não demonstrou um aumento correspondente, tendo registrado uma contração acumulada de 1,0% de janeiro a novembro (dados disponíveis). Esta queda na produção, associada à diminuição das importações de Bens intermediários, levanta questões sobre a capacidade e a elasticidade da indústria nacional em responder a mudanças no ambiente de importação.
  • A série de média móvel de 12 meses para a Produção física da indústria de transformação revela um percurso de crescimento sustentado e gradual ao longo do período analisado. A trajetória iniciou-se na marca de 100,0 e, após oscilações marginais, entrou em uma ascendente consistente, alcançando um pico de 128,4 (Gráfico 3). No entanto, após atingir o ápice, a série demonstrou uma inversão dessa tendência, com um declínio suave, mas perceptível, a queda para 105,9 refletiu uma contração na atividade produtiva. Desde o início de 2021, a trajetória do Índice de quantum de importação de Bens intermediários mostrou um notável avanço, atingindo um ápice de 297,5, indicando um aumento significativo na dependência de insumos estrangeiros pela indústria de transformação ao longo do tempo.
  • Considerando o cenário de retração no quantum importado recente (2022 e 2023), a indústria nacional, em teoria, está experimentando um aumento na demanda por insumos domésticos. No entanto, a persistência na contração da produção industrial sugere que outros fatores, além da substituição de importações, estão influenciando o desempenho do setor. A análise detalhada dos dados do período de janeiro de 2023 até novembro indica que, apesar de uma tendência à redução nas importações, não há garantia de um aumento na produção física, sinalizando a necessidade de uma avaliação mais aprofundada das estratégias de suprimento e das dinâmicas do mercado interno.

Gráfico 3. Evolução do quantum de importação e quantum da produção física
Média móvel 12 meses = base média 2002=100


Fonte: Elaborado pela Funcex a partir de dados da Secex/ME e IBGE.

As séries dos índices de preço e quantum mensais de 2023 foram revistas devido a correção anual que é realizada sempre que o ano é completado.  A necessidade dessa revisão se deve pela variação dos índices anuais de preços ser diferente da encontrada utilizando a média dos índices mensais, então, um ajuste é feito para evitar essa duplicidade de resultados.  Esse ajuste impõe que os índices divulgados anteriormente até o novembro tenham que ser corrigidos no início de um novo ano após o cálculo do índice anual.

Informações disponíveis até 31/01/2024.

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