Boletim de Comércio Exterior - 12/2023

Em foco
  • Em novembro de 2023, o índice de preços das exportações brasileiras registrou redução, refletindo as alterações contínuas no ambiente econômico global e os desafios internos enfrentados pela economia nacional. O resultado transparece o ajuste nos preços das commodities exportadas em resposta às volatilidades dos mercados globais, onde as incertezas político-econômicas e as flutuações cambiais têm impactado diretamente as exportações. O índice de preço das exportações caiu 4,1% no mês e 6,9% no acumulado do ano, sugerindo uma pressão deflacionária sobre os preços dos produtos brasileiros no mercado internacional. A queda de 6.9% no acumulado até novembro denota uma sensibilidade do Brasil às dinâmicas de oferta e demanda globais, especialmente no que tange a produtos como soja, minério de ferro e petróleo (Tabela 1).
  • A análise por classe de produtos revela um decréscimo acentuado de 7,4% nos preços dos produtos Básicos, que são a classe de produtos mais relevantes nas exportações brasileiras, pontuando uma vulnerabilidade maior do país às oscilações das commodities no mercado global. A queda de 10,7% no acumulado do ano nesta categoria reforça a necessidade de diversificação da pauta exportadora nacional. Contrastando com este cenário, os índices de preços dos Semimanufaturados e Manufaturados apresentaram uma dinâmica distinta, com um ligeiro aumento mensal de 0,9%.
  • Nas grandes categorias econômicas, os Bens de capital e Bens de consumo duráveis destacam-se com aumentos de 7,6% e 6,5%, respectivamente, no acumulado anual, refletindo uma possível retomada de investimentos e um fortalecimento da demanda por bens duráveis. No entanto, os Combustíveis sofreram uma queda expressiva de 19,2% no mesmo período, possivelmente impactados por mudanças na política energética global e pela transição para fontes de energia mais sustentáveis (Tabela 1 e Gráfico 1). Cabe destacar que em meio a discussões cruciais durante a reunião da OCDE em 2023, a transição energética emergiu como um ponto central, refletindo a urgência global de abordar as mudanças climáticas e a segurança energética. Os membros da OCDE reconheceram a importância crescente das energias renováveis como uma força motriz para alcançar a sustentabilidade ambiental e a resiliência econômica. A reunião destacou a aceleração do investimento em tecnologias limpas e inovação em energia renovável como medidas essenciais para mitigar a dependência de combustíveis fósseis, os quais estão cada vez mais sujeitos a preocupações ambientais, volatilidade de preços.
Gráfico 1. Índices de preço de exportação
Evolução da taxa de crescimento em 12 meses para grandes categorias

Fonte: Elaborado pela Funcex a partir de dados da Secex/ME. Notas: Vide o Apêndice Metodológico.

  • O índice de quantum total brasileiro registrou um incremento de 5,1% no mês, acumulando um crescimento de 9,1% no ano e 8,4% nos últimos 12 meses. Este avanço foi influenciado notavelmente no segmento de produtos básicos, que expandiu 18,2% no mês, contribuindo para um robusto crescimento anual de 17,6%. Esse desempenho pode ser atribuído à forte demanda global por commodities agrícolas e minerais, onde a agricultura e pecuária, junto com a extração de petróleo, gás natural e minerais não-metálicos, destacaram-se com aumentos expressivos de 44,8%, 1,1% e 51,9% no mês, respectivamente (Tabela 1). Por outro lado, os setores de semimanufaturados e manufaturados enfrentaram retrações, com uma queda de 7,5% e 11,8% no mês, sinalizando desafios em cadeias produtivas específicas e a necessidade de adaptação a um mercado internacional cada vez mais competitivo e diversificado. Em particular, os bens de consumo duráveis sofreram uma queda mais acentuada, com uma redução de 29,4% no mês, reflexo da sensibilidade desses produtos a mudanças no ciclo econômico.
  • A trajetória do índice de quantum para combustíveis ao longo dos últimos dois anos até novembro de 2023 revela um cenário energético brasileiro em constante evolução. Observou-se uma tendência ascendente significativa, com crescimentos robustos que alcançaram picos de até 34,13% em variação anual, refletindo um fortalecimento do setor que pode ser associado a fatores como a valorização dos preços no mercado internacional e a expansão da produção nacional. Contudo, a queda acentuada de 12,6% no índice do último mês sugere uma reversão dessa tendência, que pode ser atribuída a fatores conjunturais, como flutuações na demanda global (Tabela 1 e Gráfico 2). Por outro lado, o crescimento observado nos índices de quantum para bens intermediários e bens de consumo não duráveis, com aumentos de 10,8% e 10,7%, respectivamente, destaca a capacidade de adaptação do setor produtivo brasileiro.

Gráfico 2. Índices de preço de exportação
Evolução da taxa de crescimento em 12 meses para grandes categorias

Fonte: Elaborado pela Funcex a partir de dados da Secex/ME. Notas: Vide o Apêndice
Metodológico.

  • Analisando os índices de preço das importações brasileiras em novembro de 2023, observamos um panorama diversificado que reflete as tendências de consumo e as condições econômicas do país. A queda de 10,4% no mês no índice total reflete uma diminuição significativa nos preços dos produtos importados, quando comparada ao ano anterior, contribuindo para uma variação negativa acumulada de 8,6% no ano e de 7,5% nos últimos 12 meses. Nas grandes categorias econômicas, os bens de capital se destacam com um aumento de 2,8% no mês, acumulando crescimentos de 4,2% no ano e de 4,9% nos últimos 12 meses. Em contraste, os bens intermediários mostram uma retração de 13,7% no mês, apontando para uma diminuição nos preços dos insumos para a produção industrial, o que pode gerar implicações na cadeia produtiva a médio e longo prazo.
  • O índice total de quantum importado apresenta uma ligeira queda de 0,9% no mês, acumulando uma redução de 3,3% no ano e de 3,0% nos últimos 12 meses. Esse decréscimo pode refletir uma diminuição na demanda por produtos estrangeiros, que está alinhada com a estabilidade do faturamento real da indústria, conforme indicado pela CNI (Boletim de Indicadores Industriais). Os bens de consumo duráveis apresentam um aumento notável de 39,3% no mês, indicando uma demanda crescente por esses produtos, que pode estar associada a uma recuperação da confiança do consumidor ou a incentivos específicos para a renovação de bens com maior valor agregado. Já a categoria de combustíveis mostra um aumento modesto de 3,1% no mês, mas ainda assim acumula uma queda de 7,1% no ano e de 4,5% nos últimos 12 meses.

Gráfico 3. Índices de termos de troca para o total brasileiro

Fonte: Elaborado pela Funcex a partir de dados da Secex/ME. Notas: Vide o Apêndice Metodológico.

  • Em novembro de 2023, os Termos de troca do Brasil apresentaram um acréscimo de 7,0% em relação ao mesmo mês do ano anterior, conforme mostra a Tabela 3. Esse aumento é resultado de um incremento mais expressivo no índice de preços das exportações, em comparação com uma elevação mais moderada dos preços das importações. Já a Razão de quantum no mesmo período registrou uma notável ampliação de 12,4%, impulsionada tanto pela diminuição nas quantidades importadas quanto pelo aumento nas quantidades exportadas, refletindo um dinamismo favorável na balança comercial brasileira.
  • Analisando o setor de Agricultura e pecuária, observa-se que, apesar de uma ligeira redução de 2,1% nos Termos de troca em novembro de 2023, a Razão de quantum teve um aumento substancial de 48,7% no mês, indicando uma expansão considerável nas quantidades exportadas em contraste com as importações, o que denota um desempenho positivo do setor no comércio internacional.
  • No setor de Extração de petróleo e gás natural, houve um crescimento de 40,5% nos Termos de troca, acompanhado de um aumento de 2,5% na Razão de quantum em novembro de 2023. Tal comportamento sinaliza uma melhora nos preços recebidos pelas exportações brasileiras do setor em relação aos preços pagos nas importações, juntamente com um crescimento nas quantidades exportadas em comparação com as importadas, o que pode ser atribuído a um cenário de alta nos preços globais de energia ou a um fortalecimento da indústria nacional.
  • Destaca-se que o setor de Veículos automotores, reboques e carrocerias demonstrou um cenário menos otimista, com um leve aumento de 2,5% nos Termos de troca, mas uma expressiva redução de 26,6% na Razão de quantum. Um comportamento semelhante foi observado no setor de Produtos de metal, exceto máquinas e equipamentos, que teve uma modesta elevação de 0,3% nos Termos de troca, refletindo uma ligeira melhora nos preços relativos de suas exportações em comparação às importações. No entanto, a Razão de quantum para este setor diminuiu 19,6% no período analisado, sinalizando uma queda considerável no volume de exportações em relação às importações.
  • Cabe destacar que os índices de termos de troca e razão de quantum são indicadores do comércio internacional. Os termos de troca medem a relação entre os preços de exportação e importação, enquanto a razão de quantum compara os volumes físicos exportados e importados. Economicamente falando, quando o termo de troca sobe, isso significa que o país consegue comprar mais importações para cada unidade de exportação vendida, ou seja, há um ganho de poder de compra sobre os produtos estrangeiros. Isso mostra o fortalecimento da economia, maior competitividade internacional. Por outro lado, um aumento no índice de razão de quantum significa que a quantidade de bens que o país exporta está crescendo em relação à quantidade que importa. Isso reflete uma competitividade maior nos mercados internacionais ou uma substituição de importações por produção doméstica. Em ambos os casos, um aumento nos índices pode ser interpretado como um indicativo de robustez econômica brasileira no comercio internacional.
O QUADRO ATUAL DO COMÉRCIO EXTERIOR E
A ESTRATÉGIA NACIONAL DE COMÉRCIO EXTERIOR

Os índices de termos de troca e razão de quantum revelou um panorama misto para a economia brasileira, com alguns setores apresentando ganhos e outros enfrentando desafios significativos. Em meio a esse contexto, o governo brasileiro lançou, em novembro, a Estratégia Nacional de Comércio Exterior, que estabelece diretrizes estratégicas para a inserção competitiva do Brasil no comércio internacional. Esta estratégia, alinhada com a Política Industrial e os objetivos do Plano Plurianual 2024-2027, visa ampliar a produtividade e a competitividade da economia brasileira, fortalecendo os encadeamentos produtivos e melhorando o ambiente de negócios. A Estratégia Nacional de Comércio Exterior estabelece as orientações é diretrizes estratégicas do governo federal em temas de comércio exterior, conforme determinado no art. 3º do Decreto nº 11.428/23, com objetivo final de promover uma inserção competitiva do Brasil no comércio internacional.

A Estratégia Nacional de Comércio Exterior surge em um momento crucial, onde o setor de Veículos automotores, reboques e carrocerias, por exemplo, enfrenta uma diminuição de 26,6% na Razão de quantum, apesar de um aumento nos Termos de troca. Este cenário reflete a necessidade de ações governamentais que promovam a competitividade exportadora e a integração econômica, aspectos-chave da nova estratégia. Iniciativas como a desburocratização e a facilitação do comércio, que fazem parte dos eixos temáticos da estratégia, poderão ajudar a reverter tais desafios, simplificando os procedimentos alfandegários e aduaneiros e melhorando o ambiente regulatório no comércio exterior.

Além disso, a estratégia visa expandir o fluxo comercial de bens, serviços e investimentos, e estimular a inovação dos setores produtivos nacionais. Com isso, espera-se que o Brasil possa não apenas melhorar o desempenho dos setores já competitivos, mas também elevar aqueles que atualmente enfrentam dificuldades, alavancando-os para uma posição mais vantajosa no mercado global. Portanto, ao passo que a Estratégia Nacional de Comércio Exterior busca acelerar o processo de inserção internacional qualificada do país, aumentando a produtividade e a competitividade da economia, ela também se apresenta como um elemento de resposta aos desafios identificados pelos índices econômicos recentes. O sucesso desta estratégia poderá ser um catalisador para um crescimento econômico mais robusto, sustentável e inclusivo, gerando emprego e aumentando a renda dos cidadãos brasileiros.

Destacamos que ao observar a evolução dos termos de troca e da razão de quantum ao longo dos últimos dois anos, é possível identificar tendências que refletem as complexas dinâmicas da economia brasileira em relação ao comércio internacional. A partir de novembro de 2021, houve um movimento de crescimento nos termos de troca, alcançando um pico em setembro de 2023 com 113,625 pontos, o que indica uma melhoria nas condições de troca dos produtos brasileiros no mercado global. O aumento sugere que os produtos exportados pelo Brasil ganharam valor relativo frente aos produtos importados, contribuindo para um saldo positivo na balança comercial e reforçando a posição do país nas negociações comerciais internacionais.

A razão de quantum, que compara os volumes físicos exportados e importados, revelou uma tendência volátil, destacando-se em março de 2023, quando o índice atingiu seu valor mais alto de 112,271 pontos. Esse aumento expressivo sinaliza que o volume de exportações superou consideravelmente o volume de importações, refletindo impactos diretos das iniciativas de Integração Econômica delineadas pela Estratégia Nacional de Comércio Exterior do governo brasileiro. Essas medidas, que buscam aumentar a integração do Brasil com outros países e blocos econômicos. Além disso, esforços para mitigar os efeitos das barreiras não tarifárias ao comércio e estimular o aumento do fluxo de investimentos no país têm sido parte integrante do plano. A estratégia do Governo Federal reconhece os desafios enfrentados pela economia brasileira nos últimos anos, incluindo as dificuldades em se posicionar de forma mais expressiva no comércio internacional e a tendência de primarização das exportações brasileiras, com uma concentração em produtos da agropecuária e uma perda de participação de setores industriais de maior intensidade tecnológica.

No que tange à melhoria da inserção do Brasil nas cadeias de valor do comércio global, o país procura superar o desempenho moderado nas exportações e importações. A Estratégia Nacional de Comércio Exterior aponta para a necessidade de ampliar e diversificar a rede de acordos comerciais do Brasil, que atualmente cobre uma parcela pequena das importações de bens mundiais em comparação com a média dos membros do G20. A promoção de políticas que favoreçam a competitividade dos setores são fundamentais para aumentar o acesso a mercados de bens e serviços no exterior e reduzir as barreiras ao comércio.

Informações disponíveis até 14/12/2023.

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